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Opinião: Investir no transporte
Publicado originalmente no Jornal O Popular
13/06/2019por Olmo Borges Xavier
Assessor de Mobilidade Urbana do RedeMob Consórcio“Investir em mobilidade é fundamental para que as cidades possam se desenvolver em uma esteira racional e sustentável”
O modelo utilizado para custear as redes de transporte na grande maioria das cidades brasileiras está ultrapassado. A ancoragem nas receitas arrecadadas com a tarifa paga pelo usuário limita a melhoria do serviço e faz com que qualquer comparação com outras localidades de países da Europa e América do Norte seja, no mínimo, grosseira.
Além do investimento em infraestrutura, ação basilar para garantir fluidez e competitividade aos modos coletivos de mobilidade, os entes federados – prefeituras, Estados e a União – têm que enfrentar o problema do custo operacional dos sistemas de transporte público, que é maior do que o cidadão comum pode suportar.
Quão melhor o serviço ofertado, maior é seu custo. Essa máxima não pode ser atenuante para acomodações, ao mesmo tempo que desconsiderá-la é uma irresponsabilidade. Construir soluções para melhorar a experiência de quem usa transporte de massa em seus deslocamentos diários tem que ser meta perene de gestores, operadores, técnicos e estudiosos do setor. Contudo, um real upgrade de qualidade transcende a capacidade de planejamento e exige investimentos por parte do poder público.
Madri conta com uma complexa rede de ônibus, metrôs e trens urbanos para atender os mais de 6 milhões de habitantes de sua região metropolitana. Passageiros de todas as classes sociais atestam a boa qualidade do serviço ofertado. O preço básico da passagem é 1,5 euro e equivale a 44% do custo total, algo em torno de 3,4 euros. Convertendo a moeda, podemos afirmar que o passageiro de lá paga menos de 7 reais por um serviço que custa mais que 15 reais. Essa diferença provém de receitas extratarifárias, em regra, subsidiadas pelo Estado.
O impacto do custo do transporte público na renda mensal expõe ainda mais esta fratura. Em Paris, o preço do bilhete básico é 1,9 euro, enquanto os ganhos mensais ali giram em torno 2.270 euros por pessoa. Considerando duas viagens por dia, o transporte compromete pouco mais de 5% da renda de um parisiense. No Brasil, com esse mesmo padrão de cálculo, essa razão varia entre 10% e 17%, a depender do centro urbano. Isso comprova que nossos sistemas de transporte público, além de serem considerados deficientes, são caros para quem usa.
É preciso desmistificar esse tema, encarar a realidade e garantir o incremento de recursos públicos para subsidiar os sistemas de transporte urbano. Atribuir essa tarefa aos reajustes tarifários é hipocrisia. Investir em mobilidade é fundamental para que as cidades possam se desenvolver em uma esteira racional e sustentável.
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