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Solução pública: governos precisam investir mais em transportes coletivos
Em 2013 a redução do IPI e o preço subsidiado da gasolina custaram aos cofres públicos R$ 19,38 bilhões, quase o dobro dos R$ 10,2 bilhões investidos por governo federal, estados e municípios em melhorias da mobilidade urbana, segundo publicação do O Globo no início deste mês. Reportagem do jornal Valor Econômico traz comentários de diversos especialistas sobre os efeitos negativos do excesso de carros nas ruas dos grandes centros urbanos e a necessidade de se investir mais em transportes públicos:
O futuro das cidades com garantia de mobilidade passa por uma mudança de filosofia urbana e pesados investimentos. A aposta inevitável dos especialistas é pelo transporte público, com a modernização da infraestrutura e a aplicação intensiva de tecnologia, aliado ao estrangulamento do uso dos veículos particulares. Os diagnósticos dos especialistas apontam para um desafio que todas as metrópoles terão que enfrentar antes de serem paralisadas por um mega problema: a imobilidade.
“Muitas cidades em desenvolvimento, ao redor do mundo, vêm se tornando dependentes da mobilidade por carro e isso precisa mudar. Não estou demonizando o carro, mas há vários problemas nesse modelo, como a poluição do ar, o aumento das doenças respiratórias, a dependência de combustíveis fósseis, a exclusão social e o aumento dos congestionamentos, que criam uma erosão econômica e afetam a qualidade de vida”, disse Robert Cervero, diretor do Instituto de Desenvolvimento Urbano e Regional da Universidade Berkeley da Califórnia, nos Estados Unidos.
“A grande pergunta é: que cidade queremos? Uma metrópole ou uma pequena cidade? É preciso que a sociedade defina se quer uma cidade amigável e sustentável ou uma cidade sufocada pelo automóvel”, afirmou Alain Flausch, secretário-geral da União Internacional de Transporte Público (UITP), entidade que reúne 3.400 autoridades públicas, operadores, fabricantes, universidades e centros de pesquisa de 92 países relacionados ao tema da mobilidade urbana.
Os moradores de São Paulo gastam, em média, duas horas e meia no trânsito todos os dias. No Rio de Janeiro, a média é de uma hora e cinquenta minutos. Um estudo da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) revela que o prejuízo com o nó do trânsito chegará a R$ 34 bilhões em 2016 – quase 25% do PIB da cidade previsto para o ano dos Jogos Olímpicos.
Por ano, o tempo perdido no transporte custa nas metrópoles brasileiras R$ 62 bilhões, oito vezes o que se investiu anualmente em mobilidade, pelos cálculos dos pesquisadores Armando Castelar e Luísa de Azevedo, da Fundação Getulio Vargas (FGV), e Júlia Fontes, do Tesouro Nacional.
“Investe-se muito mais no transporte individual do que no transporte público. Enquanto não for resolvida essa contradição, não iremos a lugar algum”, disse Sydnei Menezes, do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro (CAU/RJ). “É preciso focar o investimento no pedestre, no ciclista, na conexão eficiente entre as diferentes áreas, no uso compacto da terra. Precisamos de um novo modelo de cidade”, afirmou Clarisse Linke, diretora-executiva do Instituto de Políticas de Transporte & Desenvolvimento (ITDP) Brasil, uma ONG que promove o transporte sustentável e equitativo. “Pensar no trânsito deveria ser mais do que pensar apenas na mobilidade para aliviar o tráfego para pensar também na modelagem da cidade”, disse Cervero.
As soluções combinam políticas públicas e tecnologia. Hamburgo, segunda maior cidade da Alemanha, quer construir uma rede de ruas sem carros para interligar os parques e jardins para permitir que moradores e turistas percorram a cidade inteiramente de bicicleta e a pé. Algumas capitais europeias criaram mecanismos de restrição ou desestímulo aos carros nas áreas centrais.
A Cidade do México teve ganhos significativos de mobilidade e sustentabilidade com a adoção de uma sigla hoje popular: BRT (do inglês Bus Rapid Transit). O sistema tem 427 veículos e 105 km de corredores expressos, que transportam 956 mil passageiros por dia.
Além da melhora na circulação, reduziu as emissões de gases do efeito-estufa em 100 toneladas por ano. Outros investimentos também vêm sendo feitos, como a instalação de trens de alta velocidade em quatro cidades ao redor da capital mexicana. “O BRT foi um divisor de águas na mobilidade da Cidade do México”, disse Jesús Padilla Zenteno, presidente da Associação Mexicana de Transporte e Mobilidade.
Em todo o mundo, os ônibus de trânsito rápido já existem em 180 cidades. São 324 corredores com 4.668 km que transportam 31,4 milhões de passageiros por dia. Só na América Latina são 17 milhões de usuários. O Brasil é líder mundial em BRT. Os dois sistemas já inaugurados no Rio de Janeiro têm quase 100 km e transportam mais de meio milhão de pessoas. Até os Jogos Olímpicos de 2016 serão mais dois. São Paulo tem projeto para dez sistemas, que somarão 129 km e atenderão 3,1 milhões de usuários diariamente.
Na pioneira Curitiba, que criou o modelo há quarenta anos, são 81 quilômetros e 500 mil passageiros transportados diariamente, mas o sistema já apresenta sinais de esgotamento por falta de investimentos na ampliação e manutenção.
“Não há uma fórmula perfeita de mobilidade urbana. Paris teve um ganho quando reduziu os estacionamentos e limitou a velocidade máxima na área urbana. Cidades menores, com dois a três milhões de habitantes, como Viena, Copenhague e Estocolmo, chegaram a um estado da arte em transporte depois de 30 anos de trabalho. A grande questão é qual a necessidade de transporte adequada para cada cidade”, afirmou Alain Flausch, da UITP. “O espaço viário é o maior ativo das cidades e precisa ser revisto”, disse Clarisse Linke, do ITDP Brasil.
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