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A percepção de um estrangeiro sobre o transporte coletivo em Goiânia
Convidamos um intercambista que reside temporariamente em Goiânia para um bate-papo no Terminal Vila Brasília. Ele utiliza o transporte coletivo diariamente e dá sua opinião sobre o serviço prestado pela RMTC
N’Diaye Mbaye tem 26 anos e trabalha em uma empresa de tecnologia no Setor Bueno, em Goiânia. É bem provável que você esteja quebrando a cabeça para encontrar a pronúncia correta deste nome! Não tem problema. O nome exótico não é brasileiro. Veio da Costa do Marfim, país origem de N’Diaye.
O intercambista chegou na capital goiana há mais ou menos três meses, depois de ter aplicado em uma organização internacional para passar um tempo fora do país natal. Goiânia era uma das opções apresentadas pela organização e foi escolhida por acaso pelo marfinense. “Conhecia pouca coisa a respeito da cidade, só sabia que era no Brasil. Resolvi arriscar”, ele conta. Arrependido? Que nada. “Tenho passado ótimos momentos em Goiânia”, afirma.O intercambista, que está hospedado no setor Jardim Goiás, vai ao trabalho de ônibus todos os dias, embarcado na linha 026 (T. Bandeiras – Flamboyant – via T-10). Nos encontramos com N’Diaye para um bate papo sobre a percepção dele em relação ao transporte coletivo de Goiânia, durante uma tarde de sexta-feira, no Terminal Vila Brasília.
Logo no começo do passeio, nossa equipe contou a ele sobre o processo de readequação e reforma feito nos terminais da Região Metropolitana. N’Diaye aprovou. Resumiu, em duas palavras, sua percepção sobre os terminais geridos pela RMTC: “amplos e limpos”. O marfinense também comenta que a empresa se preocupa com a segurança dos clientes que circulam nos terminais. Segundo ele, é notável a quantidade de câmeras que realizam monitoramento em tempo real, além da presença de segurança terceirizado in loco.
Visual x Textual
Mbaye não fala português. Aqui em Goiânia, interage com as pessoas que dominam a língua inglesa. Por essa razão, o intercambista sugere que os terminais de ônibus tenham sinalização também em inglês, para que os estrangeiros possam se orientar mais facilmente. “Esse é um ponto que não estava previsto no escopo inicial de comunicação visual dos terminais, mas com certeza podemos começar a adequar a informação nos terminais em médio prazo para satisfazermos ainda mais o cliente. Realmente Goiânia passou a receber um número crescente de estrangeiros nos últimos anos e iremos analisar a viabilidade dessa sugestão o mais breve possível”, enfatiza a gestora da imagem do serviço, Alyssa Hopp.Por outro lado, ele reconhece que a comunicação visual tanto nos ônibus quanto nos terminais é bastante eficaz e consegue dizer muita coisa sem utilizar palavras. “Quando subo no ônibus e vejo os assentos preferenciais, consigo identificar a mensagem apenas pelo desenho. Adesivos de mulheres grávidas, idosos ou deficientes físicos próximos a assentos marcados na cor vermelha são uma mensagem clara que todo mundo consegue perceber”, afirma N’Diaye. Nos terminais, o intercambista destaca por exemplo a sinalização que difere os toaletes masculino e feminino.
Outro ponto que o marfinense elogia é o sistema de identificação das linhas por números. “Eu não falo português, mas já tenho decorado o número do ônibus que pego todos os dias: 026. É um sistema prático, pois é possível perceber o ônibus de longe sem qualquer esforço”.
Tecnologia a favor dos clientes
N’Diaye elogia o sistema SitPass adotado no transporte público da Região Metropolitana. Segundo ele, o sistema funciona muito bem e elimina dois grandes problemas que ainda existem na maioria das cidades brasileiras que utilizam o sistema de embarque pago em espécie: falta de segurança e lentidão no embarque.O marfinense diz que se sente mais seguro ao embarcar apenas com o bilhete SitPass, sem dinheiro em espécie. Ele destaca que a sensação de segurança para o motorista é ainda maior. “Em outras cidades, existe uma grande quantidade de dinheiro armazenado no caixa do motorista ou cobrador, e isso chama a atenção de ladrões. Já em Goiânia, os funcionários que trabalham nos ônibus não têm essa preocupação”, opina.
N’Diaye também ressalta que o sistema SitPass elimina o velho problema de faltar troco para o cliente. “Outro ponto positivo do sistema adotado pela companhia é a rapidez no embarque. Não existem filas. Já utilizei o transporte coletivo em outras cidades e presenciei situações em que o cobrador não tem troco para o passageiro, causando transtorno não só para o cliente em específico, mas também para os demais”, completa o intercambista.
Para finalizar o assunto “tecnologia”, N’Diaye comenta os serviços disponibilizados no site da RMTC (horário dos ônibus em tempo real, planejamento da viagem, etc.) e o serviço de SMS, que informa aos clientes o tempo exato de espera no ponto de ônibus. “É uma boa ideia utilizar o uso da tecnologia para fornecer este tipo de serviço para as pessoas”.
Gentileza e pontualidade
A gentileza no transporte coletivo, para N’Diaye, começa no motorista e passa por todos os clientes. “Eu acho interessante a forma como todos os motoristas cumprimentam de volta os passageiros que dão ‘Bom dia’ ou dizem ‘Olá!’”, explica. “Percebi essa educação das pessoas não só nos ônibus, mas em Goiânia como um todo. As pessoas aqui são muito receptivas”, finaliza.Ademais, ele parabeniza a pontualidade do sistema. O intercambista diz que o máximo que já esperou por um ônibus foi 25 minutos, mas que, normalmente, espera de 6 a 8 minutos. “Os veículos são regulares. Em todos os pontos de ônibus, sempre passam veículos a cada dez minutos, mesmo que sejam de linhas diferentes. Acho isso uma questão bastante posivita no transporte público em Goiânia”.
Antes de vir para Goiânia, N’Diaye fez seu mestrado em tecnologia na Índia. Ele sugere que os veículos daqui tenham ventiladores para amenizar o calor, assim como os que circulam em território indiano. “Goiânia é muito quente. Ventiladores dentro dos ônibus deixariam o ambiente mais refrescante”. Na opinião do diretor geral do RedeMob Consórcio, Leomar Avelino, esta é uma questão pertinente, mas o investimento deve ser viabilizado de modo a não onerar diretamente o bolso do cliente. “Assim como a instalação de câmeras de monitoramento nos veículos, a qual defendemos instalação via parceria público-privada, acreditamos que o desenvolvimento de outros projetos de grande porte deva sempre contar com aporte público visto a relevância e impacto do transporte coletivo na região metropolitana”; ressalta. Por fim, ao comparar o transporte coletivo da cidade onde morou na Índia, com o da capital goiana, o intercambista é enfático: “em Goiânia funciona melhor”.
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